Em 1977, o professor Roberto Hermínio Moretti, da faculdade de engenharia de alimentos (FEA) da Unicamp, começou a estudar, a pedido da então primeira-dama de mato grosso, uma maneira de extrair leite de soja. Até ali, a mulher do governador e algumas amigas utilizavam prosaicos liquidificadores para produzir a bebida, utilizada para incrementar a alimentação de crianças carentes do estado. Depois de alguns meses de muitos estudos e testes, o pesquisador finalmente concebeu um equipamento capaz de processar até 200 litros de leite por hora.
Passados dois anos, a tecnologia foi adotada pelo então prefeito de Campinas, Francisco Amaral, que a chamou de "Vaca Mecânica". O invento, bem como seu apelido, ganhou o mundo. Atualmente, está presente em inúmeras cidades brasileiras e em vários países, como Cuba, Angola, Argentina, Colômbia, Paraguai entre outros.
A despeito do sucesso da invenção, que passou a ser produzida comercialmente e cuja operação foi aprimorada ao longo dos últimos anos, restava ainda uma questão a ser resolvida.
A aceitação do leite nunca foi total por parte dos consumidores, em virtude do cheiro e do gosto característicos da soja, tidos por muitos como intoleráveis. Incansável, o professor Moretti seguiu buscando uma solução para o problema. Recentemente, ele desenvolveu um sistema para desodorizar a bebida, que foi incorporado ao equipamento. Criou, por assim dizer, a segunda geração da "Vaca Mecânica", cuja patente já foi registrada. A máquina, em fase de montagem, entrará em operação no início de 2009.
A nova versão da "Vaca Mecânica" apresenta, ainda, uma outra função importante. O equipamento separa, por meio de centrifugação, o leite do resíduo sólido da soja.
Esse último, anteriormente descartado, agora pode ser utilizado para produzir carne vegetal, dando origem a hambúrgueres, quibes, almôndegas e recheios para pastel e massas. Segundo o professor Moretti, 25 quilos de soja são suficientes para produzir 200 litros de leite e 100 quilos de carne vegetal por hora. Isso equivale a mil merendas, cada uma composta por um copo de leite de 200 mililitros e um sanduíche com um hambúrguer de 90 gramas. "Essa refeição supre 50% das necessidades diárias de uma criança", afirma o especialista da FEA.
Tudo isso num espaço de apenas 250 metros quadrados. "Como essa mini-usina pode trabalhar até 20 horas ininterruptas, reservando quatro horas para limpeza e manutenção, uma prefeitura pode ter ao final de cada dia até 20 mil merendas. Se também levarmos em conta que a Vaca Mecânica produz refeições que apresentam um valor nutricional três vezes maior que o das merendas atuais, isso equivale dizer que estaremos produzindo três vezes mais com o mesmo custo", compara o professor Moretti.
Moretti adianta que o funcionamento da "Vaca Mecânica" é relativamente simples. Segundo ele, duas pessoas, uma de nível médio e outra de nível básico, são capazes de operá-la, a partir de um curto treinamento. O docente da FEA lembra que se o leite de soja for misturado ao leite de vaca numa proporção de 40%, esse último não perde o seu valor nutritivo. "Isso dá para estender nossa capacidade de fornecer leite de vaca para uma parcela maior da população.
Atualmente, o Brasil consome perto de 15 bilhões de litros de leite de vaca por ano, mas utiliza apenas 1% da soja que produz (o país é o maior exportador mundial do grão) para consumo humano", afirma.
DESODORIZADOR (Opcional) - Resultado de muito esforço e da reconhecida capacidade científica do professor Moretti, a "Vaca Mecânica" tem um funcionamento relativamente simples, como já foi dito. Para obter o leite de soja, basta deixar os grãos de molho em água fria, para que fiquem macios. Depois, a soja é fervida por 5 minutos no módulo de pré-cozimento e colocada, hidratada, na máquina. Inicialmente, ela passa por um dispositivo em forma de rosca, que recebe água a uma temperatura de 97ºC. Em seguida, água e soja são encaminhadas, de forma controlada, até um triturador. Na sequência, essa mistura passa por uma centrífuga, que separa o leite dos resíduos sólidos (okara), que já podem ser coletados para a produção da carne vegetal.
O leite recebe um tratamento térmico antes de chegar a câmara de desodorização, onde o aroma e sabor característicos da soja são eliminados.
De acordo com o professor Moretti, a primeira versão da "Vaca Mecânica", sem o sistema desodorizador, está espalhada por todo o Brasil.
Exemplares do equipamento podem ser encontrados em várias cidades em todo o país. Fora do país, a tecnologia é empregada em diversas nações da América Latina, em Cuba e até em Angola. De acordo com Rodrigo Moraes da Lactosoja, que está concluíndo a fabricação e montagem da nova versão da "Vaca Mecânica", a empresa tem capacidade para fabricar várias máquinas por mês, desde que as encomendas sejam devidamente agendadas, o que já está ocorrendo. A maior parte das peças, diz, é feita em aço inoxidável.
Parceria - O professor Moretti sempre buscou uma empresa séria que estivesse no ramo à muitos anos e que fosse a mais conceituada empresa na área, e recentemente, fechou um contrato de parceria e exclusividade, onde, toda a parte de pesquisa científica e desenvolvimento fica à cargo de Moretti e toda a parte de fabricação, montagem e comercialização dos equipamentos e dos insumos ficam à cargo da Lactosoja, a qual diz Moretti "considera como a empresa que fornece os melhores e mais concentrados insumos para a produção do leite de soja".